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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O cara dançante

Um dia eu vi um homem que tinha uma deficiência física no pé. Ele andava pulando, num constante ritmo, ás vezes, ele fazia uma variação. Passei minutos olhando aquele homem. Então, eu pensei, “Poxa que dança legal!”. E pensei de novo, “Afinal, o que é dança?”. Pronto, isso me bastou para que eu passasse dias refletindo sobre isso. E, acredite, estou refletindo até agora.

A primeira coisa que descobri é que existe diferença entre movimentos e gestos. Movimento é o deslocamento de um objeto em relação a qualquer referencial. Gesto é um movimento que faz sentindo para uma cultura particular. Aí, veio outra pergunta. (Eu e minhas perguntas!!!) Quando um movimento se torna gesto? PERCEBENDO!!! Isso! Um movimento só se tornará um gesto se você o perceber. Então eu vi que não se pode separar gesto de percepção, porque perceber já é um gesto. A percepção é como um táxi que transforma quilômetros em reais. Ou seja, a percepção é capacidade do corpo de codificar algo através de um canal sensorial. Assim, como o cheiro lembra alguém, o som pode gerar um gesto. O cego na dança é aquele que tem a ausência de liberdade, tirando o horizonte da percepção. Ir contra a cegueira, é procurar novos repertórios, novos gestos e, consequentemente, novas sensações.

Uma vez eu vi a seguinte afirmação “musica é racional e musicalidade é emocional”, então me peguei pensando: pra teatro existe teatralidade; para música existe musicalidade; e para dança existe ???? Por que a dança não têm um caráter próprio?

Comecei a sentir necessidade de uma organização sensorial e motora de um ser dançante. Anotei alguns pontos que estão presentes numa dança:

  • Desejo de mudança
  • Desejo de tecer tempo e espaço (ritmo)
  • Desafio da gravidade

Mas uma vez pensando no cara dançando, não me dei por contente. Então vi que a dança é formado por gestos e não por movimentos. A dança seria então a expressividade de uma sensibilidade. Então, a dança não seria apenas uma atividade física, mas um resultado de sensibilidade, seja pra quem faz como para quem olha. Por exemplo, sentir o mar batendo no meu corpo pode-me ser um estado dançante já que eu amo o mar e o barulho das ondas é a minha música e eu me movo no seu ritmo. Mas para quem vê, aquilo pode ser apenas um banho de mar normal, que não causa nenhuma sensibilidade. Existe coisa mais simples do que dançar com o mar? Tem gente que faz isso todo dia e nem percebe. O fato é que tudo pode ser visto como dança, mas nem tudo é dança. Fiquei muito feliz em ver aquele cara dançando e com certeza foi uma das danças mais bonitas da minha vida. Pra mim ele tinha poesia, poesia na dança. Poesia na vida. Poesia para mim.

Assina: Raíssa Forte
(Todos os direitos reservados)

Um comentário:

  1. Aquel homen era eu ,a primeira vez que visite Brasil,o pais mais bonito do mundo ...despois... de España.

    Beijos

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